domingo, 16 de agosto de 2009

Um Negro Consciente - Capítulo 1: Michael e o Racismo


Foto: Michael posando para a revista Ebony (dirigida à comunidade negra), em 2007. Ele saiu na capa dessa revista várias vezes. Esta aqui foi uma seção de fotos pra uma edição comemorativa dos 25 anos do álbum mais vendido da história: "Thriller". Quando criança Michael era um menino travesso, contente, extrovertido... Pelo menos no palco e nas brincadeiras com os irmãos. Tirando o medão que sentia do pai (enérgico demais) e o fato de ter que trabalhar desde os cinco aninhos de idade, ele era uma criança normal. Nasceu e cresceu em Gary, em um bairro de negros. Usava penteado afro assim como seu pai e irmãos, ouvia música negra e seu maior ídolo era James Brown. Michael era como todo menino de sua raça.

Em nenhum momento, em nenhuma fase de sua vida (nem depois de adulto ou na difícil adolescência quando teve vergonha de sair de casa por causa das muitas espinhas que brotaram em seu rosto), EM NENHUM MOMENTO ele demonstrou ter algo contra a raça negra, ou preferir ter nascido branco. Se mostrou chateado com sua aparência como acontece com quase todo mundo. A gente sempre tem algo de que não gosta e que se pudesse, mudaria. Com Michael não foi diferente. Ele não gostava de seu nariz, que o fazia parecer com seu pai. Mas repito, ele nunca teve problemas com a sua origem, com a sua raça. Pelo contrário: tudo nele tinha ligação direta e fortíssima com a raça e a cultura negras.

Mas essa identificação com a cultura de sua raça, não o impedia de admirar o talento que independe da cor: além de James Brown, eram ídolos de Michael: Summy Davis Jr, Fred Astaire, Gene Kelly, Charlie Chaplin, Diana Ross, Elizabeth Taylor, entre outros negros e brancos, homens e mulheres, cantores, dançarinos e atores... Eles lhe serviam de inspiração.

Até hoje tem gente que diz: “Michael Jackson nunca falava sobre raça, sobre racismo, sobre ser negro”. Ledo engano. Ele falava sim! Sempre falou, naturalmente. As pessoas que acreditaram na história dele querer ficar branco, acham que este assunto era um tabu pra ele e que ele o evitava. Não é verdade.

Já na infância, Michael conheceu a história de seu ídolo Sammy Davis Jr. (contada a ele e seus irmãos por seu pai, Joseph), que fazendo um parêntese aqui, vou contar agora:
Em 1945 Sammy e sua família foram contratados pra se apresentarem em um prestigiado hotel de Las Vegas. Mas eles poderiam apenas SE APRESENTAR lá, e não ficar hospedados junto com os brancos. Aquele (e outros) hotéis não hospedavam negros. Assim, eles tiveram que ficar hospedados em uma pensão pra negros, onde funcionários do hotel ficavam. Os negros também não podiam freqüentar cassinos nem casas de shows! Não podiam misturar-se socialmente com os brancos.

Mas... com paciência, persistência e muito talento (e uma força do amigo Frank Sinatra), Sammy conseguiu, depois de anos, romper essa barreira. Graças ao seu sucesso e influência, Sammy derrubou a segregação racial que existia naquela cidade e as coisas começaram a mudar. Os negros passaram a ter direito de se hospedar nos hotéis “de brancos” e também participar da vida social onde e como bem quisessem. A partir daí, mais e mais negros foram contratados pra se apresentarem em Las Vegas.

Quando Sammy faleceu, em maio de 1990, todas as luzes da avenida principal de Las Vegas foram apagadas por dez minutos em homenagem a ele.
Já adulto, Michael contou sobre esse episódio e disse que quando os Jackson Five foram contratados pra se apresentarem em Las Vegas pela primeira vez, embora seus irmãos não estivesse muito animados em ficar “num hotél cheio de brancos”, ele ficou empolgado com a idéia. Palavras de Michael sobre este assunto:

“Mas eu queria tocar em Las Vegas. Para mim, aquilo fazia parte da tradição do show business. Naquela reunião, o pai nos disse duas coisas: primeiro, que estava tentando mostrar para todo mundo que éramos tão bons quanto The Osmonds; depois, nos contou o que tinha acontecido com Sammy Davis, o que ele tinha passado para que gente como nós pudéssemos tocar em Las Vegas. Mais que qualquer coisa, eu queria fazer parte dessa grande tradição. Para mim era importante. Era um passo gigantesco.”
(Nota do blog: The Osmonds eram um grupo de irmãos cantores, brancos).


Os Jackson Five se apresentaram em Las Vegas e foram um imenso sucesso.


Em 1990, no Tributo a Sammy Davis Jr. (com a presença do próprio, que faleceria poucos dias depois), Michael cantou uma música que compôs em homenagem a Sammy, chamada “You were there”. Já postei este vídeo aqui no blog e agora, vou postar a letra e a tradução. Pra quem não sabe, a letra fala exatamente desse episódio que narrei acima, da luta de Sammy pra que os negros tivessem os mesmos direitos dos brancos em Las Vegas. E Michael agradece por ele ter aberto esta porta aos cantores negros das gerações seguintes, como ele próprio.

Praqueles que dizem que o Michael não assumia sua negritude, reparem que ele, nessa música fala claramente como negro, se assume como negro (como aliás, sempre fez):

YOU WERE THERE
(Michael Jackson)

Letra:


You were there, before we came.
You took the hurt, you took the shame.
They built the walls to block your way.
You beat them down.
You won the day.
It wasn't right, it wasn't fair.
You taught them all.
You made them care.
Yes, you were there, and thanks to you,
There's now a door we all walk through.
And we are here, for all to see,
To be the best that we can be.
Yes, I am here...
Because you were there. Tradução: Você esteve lá, antes de nós chegarmos.
Você enfrentou a ferida, você enfrentou a vergonha.
Eles construíram paredes pra bloquear seu caminho.
Você as derrubou.
Você ganhou o dia.
Não era certo, não era justo.
Você ensinou a todos eles.
Você fez eles se importarem.
Sim, você esteve lá e graças a você,
Agora há uma porta pela qual todos nós entramos.
E nós estamos aqui pra todos verem,
Pra sermos o melhor que pudermos ser.
Sim, eu estou aqui...
Porque você esteve lá.

(Que lindo isso! Uma clara demonstração de gratidão e reconhecimento por parte do Michael, o grande Michael Jackson – que antes de tudo era humilde, sincero e grato.)

Michael sempre soube da existência do racismo. Sempre o vivenciou (embora em proporção muito menor que Sammy e outros de sua época), e sempre se posicionou CONTRA ele. Contra qualquer tipo de racismo.

Quando jovem, Michael andou saindo com Caroline Kennedy. Ele quis beijá-la. Mas ela não deixou dizendo que sua mãe (Jackeline – a quem Michael tanto admirava e deseja conhecer) ficaria muito brava se soubesse que ela havia beijado um rapaz negro. Claro que isso deixou Michael triste. Ele até chorou por isso. Mas não desistiu de conhecer Jackeline Onassis. O fato dela ser supostamente racista não o fez perder a admiração que tinha por ela. Um dia, ele a conheceu. E quando já tinha alguma intimidade com ela, contou sobre o episódio acontecido com sua filha Caroline. Jackeline ficou muito brava com a filha e respondeu que jamais diria algo assim. Enfim... Michael descobriu então, que a racista era a filha e não a mãe.

Entre as várias amizades de Michael, estava Jane Fonda. Uma vez, perguntado sobre o que ele conversava com ela, Michael respondeu: “Política, filósofos, RACISMO, o Vietnã, atuações, todos os tipos de assuntos”.

Sammy Davis abrira mesmo muitas portas. Mas havia outras por abrir e isso coube a Michael Jackson. Sair na capa de “revistas de brancos” era algo impossível. Na “Rolling Stone” então... nem se fala! Mas... Michael saiu na capa dessa revista. Demorou, mas saiu. E saiu em capas de TODAS as revistas famosas do mundo inteiro.

Outra porta a ser aberta era a da MTV. Em 1983 a popularidade de Michael era tão imensa que mais cedo ou mais tarde a emissora iria se render ao seu talento. E ele acabou mesmo arrombando as portas da MTV.

Naquela época, tudo que era feito por negros e que chegava à MTV, era posto de lado, classificado como “não-rock”. Os pesquisadores da MTV decretaram que músicas de negros não eram bem aceitas por brancos, nem mesmo por brancos que viviam em subúrbios. Quando o clipe de “Billie Jean” chegou lá, enviado pela gravadora CBS, eles a rejeitaram prontamente. Então a CBS ameaçou retirar todos os outros clipes de seus artistas de lá, caso eles não tocassem “Beat it”. Resultado: com relutância colocaram “Billie Jean” em sua programação da tarde, em meados de março.

Depois, foi a vez de "Beat it". O sucesso de Michael era tanto que ele elevou os índices de audiência da MTV. A partir daí todos os seus clipes eram exibidos lá. A MTV pagou caro pra exibir o clipe de "Thriller" em primeira mão. Daí pra frente, outros artistas negros tiveram seus clipes apresentados na emissora. Graças ao Michael com sua genialidade e sucesso!

Em meados daquele mesmo ano de 83, Michael não estava satisfeito com seus empresários, exceto seu advogado e “faz-tudo” John Branca, em quem ele confiava plenamente. (
Nota do blog: Hoje John Branca é um dos gestores dos bens de Michael, nomeado por ele em testamento).

Os empresários Ron Weisner e Freddy DeMann, brancos, haviam sido contratados por Joseph Jackson pra cuidar da carreira de seus filhos e Michael ainda estava ligado a eles e ao pai, profissionalmente. Isso o aborrecia. Mesmo porque, além de querer se desligar do pai como empresário, também estava insatisfeito com o trabalho de Ron e Freddy. Motivo: eles só falavam besteira como por exemplo achar que o disco “Thriller” venderia apenas dois milhões de cópias (Quincy Jones também concordava com isso – nessa época a relação dele com Michael também já havia desandado), querer que Michael se vestisse de Robin Hood e usasse arco e fechas no clipe de “Beat it”, além de aconselhá-lo a não participar do show “Motown 25” (em que Michael fez o passo “moonwalk” pela primeira vez ao som de “Billie Jean”).

Nesse meio tempo, Joe Jackson, também insatisfeito com os dois empresários (mas por outro motivo: Joe achava que eles estavam dando muito mais atenção à carreira-solo de Michael do que ao grupo formado por todos os seus filhos) andou dando declarações de teor racista como dizer que chegou “ao ponto de pensar que precisaria da ajuda de brancos pra lidar com a estrutura corporativa da CBS”. Freddy, um dos empresários rebateu dizendo não achar “que ele tenha um bom relacionamento com qualquer pessoa cuja pele não seja negra”.

Esse bate-boca através da imprensa foi a gota d’água pro Michael. Ele mandou John Branca demitir os dois empresários (Ron e Freddy). Mas pra não correr o risco das pessoas acharem que ele tinha as mesmas idéias racistas de seu pai, Michael, que não gostava de dar entrevistas desde alguns anos atrás (e ele tinha lá seus motivos - que outra oportuniade comentarei aqui), resolveu dar uma declaração à imprensa.
Aqui estão as palavras de Michael sobre as declarações de seu pai, que mostram claramente sua opinião a respeito de racismo e preconceito religioso:

“Não sei o que o levaria a falar algo assim. Fico de estômago embrulhado quando ouço que ele diz essa espécie de coisas. Não sei de onde ele tira essas idéias. Quanto a mim, sou daltônico. Não contrato pela cor. Contrato pela competência. A pessoa pode ser de qualquer raça ou credo, desde que eu obtenha o melhor serviço. Racismo não é o meu lema.” O próximo passo de Michael seria desligar de vez o pai de seus negócios (o que seria bem mais difícil do que ele imaginava).

No ano seguinte, Michael foi acusado de racismo porém ao contrário: não contra os brancos, mas contra os negros. Don King (também negro) ficou com raiva porque Michael, após a turnê da Vitória, declarou que não faria mais turnês com os irmãos (e ele tinha muitos motivos pra isso). Don King, que era um exibicionista de carteirinha disse ao Michael que deixar os irmãos significava não gostar de ser negro. Disse que Michael tinha que cantar com os irmãos e que mesmo seguindo carreira-solo e fazendo passos de dança maravilhosos, ele continuaria sendo um megastar negro. “Michael tem que sacar que ele é um negão” disse o promotor.

Interessante esse Don King... Então porque Michael era “negão” tinha que ficar preso eternamente ao pai e aos irmãos (profissionalmente falando)? Teria que carregar nas costas a família em toda turnê que realizasse pra divulgar SEUS discos de sucesso??? A verdade é que Michael SEMPRE foi muito generoso com toda a família. Às vezes fazia até o que não queria, ou não devia, só pra agradar a mãe e ajudar os irmãos. E isso sempre acontecia... E geralmente Michael se ferrava por causa de atitudes dos outros!


Na verdade, Michael nunca foi racista contra os brancos. Não seguiu a cartilha de seu pai. E se não era racista em relação à “outra raça”, seria muito menos em relação à sua própria raça. Naquela frase que citei acima, dita por ele em 83, fica clara sua posição quanto a isso: “Racismo não é o meu lema”. NUNCA FOI.

E é isso mesmo que ele fala na letra de “Black or white”, de 1991:
“Se você quer ser minha garota não importa se você é preta ou branca,
Se você quer ser meu amigo não importa se você é preto ou branco...”
Isso reflete o pensamento e a atitude que o Michael sempre teve quanto à questão racial. Ele SEMPRE pensou (e agiu) assim. Era “daltônico” como ele mesmo disse. Não distinguia as pessoas pela cor.

E “Black or white” é uma canção anti-racial. Mas alguns desavisados que não conhecem a história de Michael, dizem: “Quem é ele pra pregar igualdade entre as raças se ele quis ficar branco?”.

Só digo: SE INFORMEM ANTES DE VOMITAR ASNEIRAS.

Durante toda sua carreira, Michael deixou claro duas coisas quanto a isso:

Uma é que ele era totalmente contra o racismo (de qualquer tipo).
E a outra é que ele valorizava muito a raça negra, inclusive (e acredito que principalmente) por pertencer a ela.

Na introdução deste texto, postada aqui anteontem, eu comentei que Don King (promotor da turnê da Vitória) dissera que o fato de Michael ser negro o impedia de obter o reconhecimento merecido por parte do público branco.

Pois bem: em vez de se afastar da cultura negra pra agradar mais aos brancos o que Michael fez? Colocou-a com ainda mais força em seu trabalho.

Michael propagou não só a música negra fazendo-a invadir as rádios “de brancos” e a MTV como também popularizou mundialmente o “break” (dança negra de rua) que antes só era conhecida em guetos e restrita à comunidade negra.

No clipe de “Bad”, ele mostra a realidade desses guetos, tanto o lado da amizade quanto o da violência. O clipe fala da dificuldade que um jovem negro morador de subúrbio encontra ao querer estudar em uma boa escola e ter um futuro melhor, e o preconceito que sofre por parte de seus amigos do gueto quando eles percebem que ele não quer mais ter certo tipo de atitude que tinha antes (como roubar). Isso foi um fato real e o garoto foi morto pelos seus “amigos” do gueto por não querer mais fazer parte da gangue. No clipe porém, acontece um final feliz e os amigos selam a paz entre eles, ficando tudo bem. (Eu postei este clipe aqui no blog, na íntegra).

O disco todo está impregnado de cultura negra. Mas as pessoas deviam achar estranho que, enquanto Michael mergulhava cada vez mais fundo em suas origens, a cor de sua pele parecia cada vez mais clara e seu nariz mais afilado.

Mas...

Por que ele iria querer ficar branco se chegou ao topo, rompendo todas as barreiras quando tinha a pele escura?

Por que ele causaria tamanha dor à sua mãe, que ele tanto amava e de quem se orgulhava, renegando a raça dela? E ela, assim como toda a família, aceitaria esse insulto?

Se ele quisesse mesmo “deixar de ser negro” ele continuaria tão fortemente ligado à cultura dessa raça, tratando de fazê-la se expandir e ser respeitada em todo o mundo?

Em 1989 ele recebeu uma homenagem numa escola em que estudou quando criança, para alunos negros. Ele foi lá pessoalmente e ficou todo feliz e emocionado com a homenagem. Eu vi isso, no Jornal Nacional (Globo).

Se não quisesse mais ser negro, ele estaria ali pra ser lembrado da origem que ele estaria tentando apagar ou esquecer? Ele teria ido lá pra ser apresentando como negro diante da imprensa de todo o mundo?

É CLARO QUE NÃO.

A explicação pro fato de sua pele estar mais clara certamente apareceria mais cedo ou mais tarde. Mas a verdade que estava diante dos olhos de todo mundo (e muita gente, influenciada pela boataria e a mentirada dos tablóides se recusava a enxergar) era essa:

Michael Jackson NÃO estava querendo deixar de ser negro.

Ele NÃO estava renegando sua raça ou sua família.

Ele NÃO estava querendo ou fingindo ser de raça branca.

Ele NÃO estava dando as costas ao seu passado pra virar outra pessoa (se fosse assim mudaria primeiro de nome!).

Ele NÃO estava se afastando da cultura negra.

O motivo de seu nariz estar afilado NÃO era porque ele quisesse se livrar de vínculos com a raça negra.

E ele NÃO tinha nada contra os negros, MUITO PELO CONTRÁRIO.

Era isso que dava pra concluir. Pelo menos aquelas pessoas que ousaram pensar com suas próprias cabeças – após se informar bem e observar os fatos e a situação com imparcialidade – com certeza concluíram isso.

Acredito que a maioria do público, a grande maioria dos leais fãs de Michael enxergaram a verdade mesmo sem conhecer ao certo o que estava por trás daquele “branqueamento” dele. A maior parte da comunidade negra também jamais o abandonou.

Prova disso é o sucesso indiscutível que ele continuou fazendo. As vendas do disco “Bad” dispararam e ele conseguiu uma façanha inédita (que nem ele mesmo tinha conseguido antes): colocar CINCO músicas do mesmo disco em primeiro lugar nas paradas: “Bad”, “I just can’t stop loving you”, “Dirty Diana”, “Man in the mirror” e “The way you make me feel”.

Além disso sua turnê mundial bateu todos os recordes de público (e só ele próprio viria, no futuro, a superar esse recorde), levando à loucura e à histeria pessoas de todas as raças, de ambos os sexos, e de várias idades, culturas e credos pelo mundo afora .

Mas os críticos e a imprensa foram implacáveis com ele, não só por sua pele mais clara (nessa época ele estava digamos... “castanho”) mas por suas “bizarrices” (que na verdade tinham sido plantadas e eram mentiras).

Muita gente, principalmente aqueles que nunca tinham sido fãs de Michael, não o perdoavam e o criticavam duramente. Haviam negros que se sentiam traídos, desprezados e ofendidos. Mas isso porque não conseguiam penetrar o véu da aparência, da superfície, da pele. Por dentro, Michael estava cada vez mais negro.

Existe auto-racismo?

SIM. Eu mesma conheço alguns casos e vou citar um:

Dois sobrinhos de uma amiga da minha família, que agora já estão adultos, eram (e de certa forma ainda são) profundamente infelizes porque a sua mãe é negra. Eles amam a mãe, mas não a raça dela. O pai dos rapazes também não é branco. Pelo cabelo bem crespo, tudo indica que seja mulato. A pele dele é morena, mais ou menos como a de Michael Jackson no clipe de “Bad”. Naturalmente, os meninos nasceram mulatos (um é mais claro que o outro) e de cabelo “duro”. Eles odeiam ser chamados de mulatos, e mais ainda de negros. Eles corrigem: “Sou só moreno-claro!”. Quando alguém diz que se parecem com a mãe, eles ficam zangados e quando crianças, choravam e gritavam ao ouvir isso. E o pior: sempre evitaram sair com a mãe e têm vergonha dela. Se casaram cedo, com duas brancas – uma delas tem olhos azuis – e preferem freqüentar a família delas do que a deles próprios.

ISSO NUNCA ACONTECEU COM MICHAEL JACKSON.

Aliás, com ele a história era oposta: ele sempre se orgulhou da mãe, negra, muito mais do que do pai, que é mulato de olhos claros. E dizia com orgulho que era negro.

O lançamento de “Black or White” deixou claro pra todo o mundo que Michael era contra o racismo. Este vídeo, um dos melhores (senão o melhor) feitos por ele, une pessoas de TODAS as raças. A mensagem é simples e direta: somos todos humanos, independente da raça ou qualquer outra coisa. Nós não somos a nossa cor, não somos uma cor, somos PESSOAS com os mesmos direitos.

Como sempre, artistas (e dessa vez esportistas também) negros eram maioria em seus clipes do álbum “Dangerous”.

O povo continuava com a “pulga atrás da orelha”. Como ele poderia valorizar tanto a cultura negra, a dança negra, a música negra (predominante no disco, mais uma vez) e as personalidades negras (Naomi Campbell, Magic Johnson, Michael Jordan, Imã, Eddie Murphy, entre outros que participaram de seus clipes) enquanto sua pele ficava mais e mais clara?

A resposta pra isso veio finalmente no programa de Oprah Winfrey, em 1993, quando a turnê de “Dangerous” varria o mundo e mostrava a todos porque Michael era chamado de “Rei do Pop” e “O artista do Século” (inclusive ele recebeu esse prêmio no “American Music Awards” – deixando Elvis, Beatles, Sinatra, Chaplin, Marilyn Monroe e outros pra trás).

Qual é essa resposta? VITILIGO. E é desse assunto que vou tratar no próximo capítulo deste texto de três capítulos.

Mas... essa entrevista serviu pra responder a mais uma das acusações que cito na introdução: que ele não via imagens do passado.No começo do programa, Oprah exibiu imagens de Michael quando criança e ele se divertiu bastante vendo aquilo.

Cinco anos antes, em 1988, Michael fez o filme "Moonwalker"(que eu tenho e recomendo - é ótimo!!!), em que há uma abertura mostrando várias imagens de toda a carreira de Michael, inclusive uma foto em preto e branco dele quando bebê, sorrindo (e que bebê mais fofo!). Como toda a concepção do filme foi do próprio Michael, obviamente ele não somente viu, como também selecionou as fotos e imagens de sua carreira que apareceriam na abertura.

Na década atual, Michael apareceu em um especial chamado “Michael Jackson’s private home movies”, em que ele mostrava seus vídeos caseiros. Ali havia imagens dele desde criança até a época em que o especial foi feito. Os vídeos mostram Michael em casa (desde a humilde casinha em Gary até Neverland), em turnês, eventos, ou no supermercado fazendo compras e se divertindo. Michael ia vendo as imagens e as comentando. Ele estava bem, relaxado e ria de algumas situações. Não vi nenhum traço de dor ou contrariedade e muito menos vergonha nele em assistir a tudo aquilo e relembrar o passado (assista aos vídeos aqui, no final deste post).

Então... mais uma mentira derrubada!

Há pessoas que preferem não ver seu sofrido passado... Lembro que uma vez, quando lançaram um filme sobre a vida de Tina Turner, ela se recusou a assití-lo porque não queria sofrer relembrando momentos difíceis de seu passado.

Mas esse não era o caso de Michael. Ele podia não gostar de falar sobre certos assuntos (como as surras que levara do pai) que eram difíceis pra ele. Mas não tinha essa de “não ver suas imagens de quando ‘era’ negro”.

Primeiro: ele sempre as viu; podia passar um bom tempo sem ver mas virava e mexia, as estava sempre vendo.

Segundo: ele sempre foi negro, jamais deixou de ser, portanto não tinha nada a ver colocar o verbo SER no pretérito como alguns faziam!

A questão do racismo sempre incomodou Michael.

Em 2001 ele brigou com o todo-poderoso da Sony Music (ex-CBS) Tommy Mottola porque presenciou atitudes racistas por parte dele. Michael contou na época que Mottola chamou um artista contratado pela Sony de “preto gordo” (pejorativamente) e que explorava seus artistas negros e depois os colocava de lado, como fez com James Brown (maior ídolo de Michael, que estava passando por dificuldades financeiras).

Michael discursou na época contra o racismo e novamente falou como negro. Teve apoio de artistas, políticos, religiosos, da comunidade negra e de parte da imprensa, além de sua família, amigos e fãs que fizeram cartazes de Tommy Mottola de chifrinhos.

Mais uma vez Michael deixou claro a sua opinião sobre a questão do preconceito racial:

“Temos que acabar com o racismo. Racismo é muito ruim.”

Aqui está o vídeo em que ele discursa e diz aquela frase "Eu sei que sou negro". O áudio não está muito bom e o vídeo está em inglês. Ainda não o achei traduzido na íntegra:


Agora, aqui está o trechinho desse discurso que encontrei traduzido:



E pra fechar o post, o especial em que Michael mostra seus vídeos caseiros, com legendas em português:

Parte 1:




Parte 2:



Parte 3:



Parte 4:




Parte 5:




Parte 6:




Parte 7:




Parte 8:




Parte 9:



Parte 10:




Parte 11:




Parte 12:



Parte 13:






Próximo capítulo: Michael e o vitiligo (postarei em breve).



12 comentários:

  1. Adorei!!!!!
    Vc esmiuçou essa questão delicada de uma maneira séria e esclarecedora!
    Como vc disse a verdade sempre esteve diante dos nossos olhos,
    mas muita gente ficava de olhos fechados e só os abria p ver o que saía na imprensa.
    Parabéns pela sua dedicação, continue assim porque o Michael merece que a verdade prevalesça. Ele sem duvidas é um anjo que passou na terra, foi muito incompreendido e julgado por pessoas de mentes ruins!
    Não é certo que continuem a espalhar mentiras sobre ele, não podemos aceitar isso!
    Amei o texto, a foto que vc escolheu e esses videos.
    Ainda não tinha visto esses home videos dele traduzidos. Obrigada por postar!!!!!
    Bjus!!!!!!

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  2. Querida Elisa,só poucos dias atrás descobri este seu blog,que assim como o outro está perfeito!
    eu li o seu texto sobre o Michael Jackson, nosso eterno rei do pop no seu blog "aqui pra nós" e dias depois descobri este seu novo blog.
    estou lendo tudo e tem coisas que eu só fiquei sabendo a respeito dele aqui,por voce.
    como oitentista que sou,senti muito a perda desse que foi o maior icone da minha década favorita.fiquei muito triste mesmo.
    Eu sou fã dele desde off the wall (sou bem mais velhinha que voce).adorava ve-lo cantar e dançar.além de ter muito talento,ele era muito sexy!
    e eu,essa loira branquela e sardenta que vos fala sempre fui chegada em um belo black man!
    Eu fui uma das pessoas que acusaram o Michael de ter clareado a pele.continuei gostando das músicas dele,dos clipes,das danças mas.... como ele estava clareando,clareando....... eu o acusei de racista e fiquei muito decepicionada com ele como pessoa.
    acreditei naquilo e quando ele disse que tinha vitiligo fiquei na dúvida.
    depois,vi imagens na internet,alguns anos atrás e fiquei muito triste por ter acusado-o.
    daí pra frente sempre o denfendia quando alguém o chamava de racista,eu dizia "não,ele tem vitiligo,ele falou a verdade".
    Estou sensibilizada com suas palavras neste texto.
    realmente,como voce mostrou aqui,ele nunca foi racista,sempre combateu o racismo e nós aqui o julgando enquanto ele tentava lutar contra uma doença sem cura!
    Espero que ele,de onde ele se encontra agora possa nos perdoar.
    Por que não acreditamos na palavra dele? Por que?o ser humano é tão injusto,e o que dizer da imprensa?
    Parabéns pelo seu blog,pelo seu trabalho e conte comigo!
    Beijo,
    Raquel.

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  3. Nossa, Elisa... tenho lido os seus textos fora de ordem (talvez por isso eu tenha sido repetitiva em alguns comentários), mas esse texto está divino e rico em detalhes...
    Compactuo com vc sobre tudo o que foi escrito e assino embaixo...
    Concordo ainda quando vc disse que, para nção perceber que ele não tinha nada de racista, a pessoa só poderia ter um olhar muito superficial sobre a vida/trabalho do Michael, ou então está com uma visão pré-concebida...
    O ser humano tem se mostrado cada vez mais cruel com seu próximo... Vamos trabalhar para mudar essa realidade, nem que seja aos pouquinhos, cada um fazendo a sua parte... Acho que jé é um grande avanço....
    Precisando de minha humilde colaboração, conte comigo...
    Bjo grande e parabéns...

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  4. O q vc falou eh a pura verdade, o Michael nunca foi racista com a raça dele, ele sempre soube q ele era negro! Era o negro mais lindo e maravilhoso do mundo! Mesmo depois das plásticas, com doença de pele e tudo ele era lindo. Os olhos dele eram os mesmos, o sorriso, os dentes perfeitos, a voz suave... O corpo dele era o mesmo, aquelas lindas mãos, os pés dançantes! MJ era tudo de bom! Deus esteja sempre com ele.

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  5. Billie Jean, Raquel, Marília e Pricila.
    Muito obrigada a vcs pelas palavras e pelo apoio.
    Precisamos nos unir e lutar contra essa montanha de mentiras que vive surgindo sobre ele. Obrigada de novo! Agradeço o apoio e fico feliz em poder contar com vcs!
    Bjosss!!!

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  6. Nossa, Elisa é muito bom você ter postado esse assunto porque muita gente, me incluindo pensava mau dele. Eu acreditava mesmo que ele tinha clareado a pele dele e que ele odiava ser negro e que tinha vergonha da familia. Eu tenho origem negra-branca-indígena então sempre odiei racismo. Eu ouvia as pessoas falando que ele tinha clareado a pele dele e todos esses boatos que você falou.
    A minha mãe viveu nos anos 80 e eu como nasci em 91 só podia acreditar no que ela e outras pessoas falavam. Ouvi que ele tinha uma doença mais a minha mãe e meu pai diziam que era mentira dele.
    Eu não sabia que ele tinha falado desse assunto, que ele era contra racismo e gostava de ser negro SIM. Estou apaixonada por ele!
    A falta de informação faz as pessoas fazerem tantas injustiças com pessoas boas como ele que não merecem isso!
    Como a Raquel falou aqui acima espero que ele nos perdoe.
    Parabéns pelo blog, é maravilhoso que o Michael tenha fãs como você.
    A partir de agora tô no time de vocês, conta comigo viu?
    Bjuuu!

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  7. Oi, Rayssa! Obrigada!
    Fico feliz q o Michael esteja (mesmo agora) ganhando sempre novos fãs e como sempre, de todas as idades.
    Fico feliz que meu modesto blog esteja sendo útil pra ajudar na luta dos fãs de Michael pra estabelecer a verdade a respeito dele.
    Bom... vc falou da sua origem, acho q ganho de vc, viu? Não é pra me gabar mas eu descendo das quatro raças existentes (ou pelo menos as que são conhecidas - branca, negra, amarela e vermelha).
    Por parte da minha mãe minha ascendência é portuguêsa:meu avô era português e há boatos de que a mãe dele era uma português descendente de italianos e minha avó era brasileira mas filha de portuguêses.
    Mas por parte do meu pai a "salada" é completa: tinha português também, além de negro, índio e oriental. Isso é Brasil. Minha etnia é brasileira.
    Tb detesto todo tipo de racismo, inclusive o q existe contra os brancos. Bom... como vc vê, estou longe de ser 100% branca (poucos brasileiros são), mas vejo que se uma pessoa de fato branca sai com uma camisa com os dizeres "100% branco" ou "Tenho orgulho de ser branco", é chamado de racista. Já se um negro desfila com o mesmo tipo de camisa se orgulhando de sua raça, é aplaudido e admirado por ter orgulho de si. Não é contraditório isso?
    Pra vc vê q cada um sofre preconceito de um jeito. Os negros de um jeito, brancos de outros, índios de outro e orientais de outro tb...
    Q bom q tenho um pouco de cada raça. Assim não posso puxar a brasa pra sardinha de nenhuma delas! rsrsrsrs
    Defendo todas, igualmente.
    Bjokssssss!!!

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  8. Nossa... totalmente pertinente esse seu comentário... O preconceito existe não só contra os negros e isso é fato...
    Sou também uma "mistureba", mas sou bem branquinha... E Tenho horror q qualquer tipo de preconceito... Já dizia nosso amado MJ "prejudice is ignorance"...
    Uma pessoa que, ao ofender outra de "branquelo safado", vai preso? Acho que não neh?! E o contrário?! Isso tem que ser revisto... seriamente...
    Aquele sistema de cotas, acho aquilo um aval ao preconceito... É simplesmente ridículo...

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  9. Marília, concordo totalmente com vc sobre as cotas. Dá margem ao preconceito, mesmo. É uma forma de segregação disfarçada em boa ação.
    Realmente, sempre q as leis tentam defender um grupo, q considera-se o mais fraco, aquele q era considerado mais forte, é sempre prejudicado.
    Por exemplo: pra se favorecer os negros, prejudica-se os brancos.
    Pra favorecer os homossexuais, acabam afetando indiretamente os heteros.
    Pra se proteger as crianças, o menor de idade, os pais perdem mto de sua autoridade (qualquer tapinha na bunda já vira espancamento!).
    Pra dar direitos aos empregados, permite-se que mtos bons patrões sejam injustiçados.
    Pra defender a mulher, bons maridos são explorados por mulheres mal intencionadas...
    Acho q devia haver um meio-termo em tudo isso.
    Assim, favoreceriam as "minorias" ou o "lado mais fraco" sem fazer sofrer o "mais forte".

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  10. Gentee qeem feez isso .. é uma pessoa beem informada !!
    Amo Michael Jackson de paixão !!!


    Michael Jackson sempre aqii ♥ !!

    Foreveer !!

    Marina Jackson ♥

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  11. tambem concordo quem fala estas coisas de michael sao pessoas que nao tem mais o que fazer da vida como ele poderia negar sua propria origem so porque era um negro que se tornou branco agora se ele tivesse nascido um menino de pele clara e virasse um negro ninguem falaria nada ele amava ser negro como poderia querer ficar branco existem 3 filtros de sócrates que sao voce viu e verdade e o que voce vai ganhar de bom com isso como os filhos dele que os outros dizem que ele nao quis que nascessem negros entao por que a mae das crianças so veio dizer isso depois da morte dele o ser humano gosta de ver o lado podre dos outros mas as coisas boas que ele fez ninguem fala michael pode nao ter sido reconhecido aqui na terra mas foi reconhecido por Deus e recompensado pela sua bondade e com certeza ele esta la no céu ele morreu mas vivera eternamente em nossos coracoes

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  12. Nossa, que nojo dos comentários dessa Elisa e dessa Marília. Me dá um ranço ver que Michael tinha e tem fãs racistas. Não existe racismo reverso, Joe Jackson não era racista contra brancos. Não existe racismo contra brancos no ocidente.

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